Caros leitores,

As cartas, mesmo com sua aparente estrutura simples, é um gênero complexo, rebelde, muitas vezes híbrido e, ao longo da tempo, se destacaram por sua importância informativa, sociológica, historiográfica, científica e, por isso, até hoje, mesmo com o avanço da tecnologia e da celeridade na troca de mensagens tão popularizados, são colecionadas, rememoradas, comentadas: vividas.

Imaginem, leitores, as histórias compartilhadas entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira, entre Clarice Lispector e Fernando Sabino e entre tantos gigantes por aí. Imaginem também as incontáveis que já circularam entre anônimos, quantas delas se esvaíram no esquecimento, não chegaram ao destinatário ou ficaram sem resposta. Quantas foram engavetadas antes do envio ou foram lidas e escritas na clandestinidade... Imaginem, ainda mais, quantas cartas desses mesmos anônimos circula(ra)m, narrando angústias, inquietações, frustrações, sustos, alegrias, incertezas, trazendo boas-novas, revelando segredos ou ocultando-os.

Quer seja presente no romance Primo Basílio, de Eça de Queiroz, no poema Carta, de Carlos Drummond de Andrade, no filme Central do Brasil (1998), dirigido por Walter Salles, ou na música As cartas que eu não mando, do cantor Leoni, o gênero epistolar permitiu o acesso do público, ultrapassou a relação remetente/destinatário e ganhou espaço também na arte.

Por isso, a iniciativa do Ifes-campus São Mateus, em sua 11ª edição, por ocasião da Semana Nacional do Livro e Biblioteca 2022, é bastante interessante e bem-vinda! As cartas enviadas versam sobre temas variados, tais como o amor, desgosto, a fugacidade da vida, desigualdade social, cumplicidade feminina, dúvidas e a necessidade de tomada de decisões; revelam, por conseguinte, criticidade e sensibilidade diante de grandes questões humanas e de fenômenos sociais, em claro diálogo com textos literários.

Escrevo estas palavras celebrando duplamente: o sol, após tantos dias de chuva, e o trabalho tão primoroso exercido por uma instituição educacional. De minha parte, fica o convite à leitura das cartas. E que novas histórias sejam abertas. 

Cordialmente,

Mariana Passos Ramalhete. 

Vila Velha-ES, 9 de dezembro de 2022.


Sobre a autora: Mariana é professora de Língua Portuguesa do Ifes Campus Vitória, colaboradora constante das ações realizadas pela Coordenadoria de Biblioteca do Campus São Mateus.

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