Bicho, aonde foi parar a restinga que estava aqui?

Autora: Lara Dias Araújo (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa)

O lugar onde vivo é uma cidade localizada ao norte do estado do Espírito Santo, com uma população de aproximadamente 132.642 habitantes. Ao longo de seus 476 anos, o município de São Mateus é conhecido pelo seu famoso e aconchegante balneário de Guriri, em razão de possuir águas mais quentes na região, atraindo pessoas de vários cantos do país. Além do intenso turismo, há também importantes acervos históricos, como o Porto e a Igreja Velha, e áreas de mata nativa, como o bioma Mata Atlântica e seu protagonista ecossistema de restingas localizado no balneário. 

Entretanto, essas áreas de mata, lar de muitos animais e flora nativa, vêm sendo, constantemente, depredadas e desmatadas para a abertura de terrenos de condomínios e por, até mesmo, vandalismo da própria população. No entanto, com relação à abertura de terrenos, há os que são a favor, uma vez que poderá valorizar a região em aspecto estético e econômico. Valorização esta que, aos olhos da ganância vinda da prefeitura, parece ser muito bem vista, não importando quais forem as consequências ambientais, já que, inesperadamente, iniciou-se a invasão. Qualquer pessoa bem estudada e consciente sobre este assunto sabe o real problema. 

Nesse contexto e de acordo com a minha opinião, se a situação não for repensada, o balneário do município, certamente, poderá sofrer grandes consequências ambientais no futuro, uma vez que o impasse também é agravado por decorrentes mudanças climáticas na região. Um bom exemplo para a discussão e que pode vir a acontecer em Guriri é o caso do munícipio ao lado, Conceição da Barra, que há anos sofre com o avanço do mar sobre a costa, decorrente da depredação da restinga costeira, e que causa grande destruição para seu balneário. Este fenômeno ocorre, pois, a vegetação da restinga, quando extinta, torna-se arenosa e acaba perdendo a estabilização de seu substrato, facilitando a invasão do mar.  

Além da chegada de novos condomínios, a depredação da restinga acontece por meio também do vandalismo que, apesar das placas de avisos, é, em geral, marcado por queimadas, má destinação do lixo, entrada de automóveis sobre a vegetação etc. Infelizmente, não é de hoje que as pessoas têm o mau costume de queimar o lixo como forma de descarte, além de atear fogo em terrenos para uma “limpeza rápida”, podendo correr o risco de perder o controle das chamas. Em janeiro deste ano (2021), houve um incêndio na restinga de Guriri e a principal suspeita da causa do crime, segundo os militares, é oriunda de ação humana. Vale lembrar que, mesmo que a região apresente clima quente e úmido, a seca e a falta de chuvas durante o ano é algo frequente, em razão das mudanças climáticas, contribuindo para a agravação do problema e para o aumento na emissão de gases na atmosfera, bem como a poluição do ar.

Numa outra perspectiva, vale também mencionar que, ao desmatar e depredar a restinga, animais nativos passam a ser forçados a procurar um novo lar para viver, já que o antigo vem sendo destruído. Assim, gera-se um aumento da aparição de animais pelas ruas da cidade e dentro de residências, sendo, muitos deles, peçonhentos. Por consequência, isso gera, também, maior risco de ataques à população. 

Por fim, falar sobre esse assunto entristece-me grandemente, pois a preservação do meio ambiente já deveria ser algo consolidado entre as pessoas, fora que, desmatar a restinga também significa contribuir para o aumento da extinção da Mata Atlântica no território brasileiro. Segundo o INEP e o SOS Mata Atlântica, entre 2019 e 2020, São Mateus foi a cidade que mais desmatou áreas de Mata Atlântica no Espírito Santo. Além disso, acredito que esse é um impasse difícil de ser resolvido, em razão das diferentes opiniões e atitudes. 

Ainda assim, penso que a solução mais viável está no investimento na educação ambiental nas escolas, por meio do reforço no estudo de biomas e seus ecossistemas, junto às práticas e políticas de preservação do meio ambiente e a importância da valorização da mata nativa de seu município e região. Dessa forma, poderemos evitar futuros impasses sobre a restinga do nosso município, oriundos dos erros no presente, e contribuir, também, para a preservação da Mata Atlântica do país. Lembre-se, qualquer área desmatada ou depredada, por menor que pareça ser, é uma perda enorme para o planeta.

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