Feita de terra

Autora: Juliani Paveze Thomaz Leite (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa)

Aqui se colhe o café no pé e dias depois está na garrafa sobre a mesa somos os maiores produtores de pimenta-do-reino do país, segundo dados do IBGE de 2019, e ela, depois de seca, virá tempero para as comidas feitas no fogão à lenha, as frutas e verduras são levadas às feiras aos domingos, e o que volta é o que garante mais um mês de alimentos e contas pagas.  Aqui nós nos chamamos de comunidade, mas acho que família também caberia como título, já que meus vizinhos são meus tios, avós, primos, amigos e amigos dos meus amigos. Esse é o meu lugar. 

As comunidades localizadas na zona rural do município de São Mateus-ES, que de acordo com dados do IBGE contava com 24.487 mil pessoas em 2010, foram erguidas em volta da Rodovia Federal BR-381 Miguel Curry Carneiro e, devido à grande influência do catolicismo, a maioria delas recebem nomes de santos, como exemplo, a que moro é chamada de Santa Leocádia e elas vêm crescendo e se dispersando pela extensão de terras a dentro e consequentemente a criação e manutenção das estradas vicinais se tornam essenciais para a mobilidade dos indivíduos. 

A péssima assistência por parte do órgão responsável pela manutenção e à preservação delas que é a prefeitura municipal de São Mateus é algo que preocupa os moradores há um bom tempo, já que elas são o meio que utilizamos para irmos à zona urbana e para o escoamento da produção agrícola a situação agrava no período chuvoso e algumas famílias ficam isoladas, inúmeras vezes meus colegas de classe não compareceram às aulas por não conseguirem sair de suas casas.

No período eleitoral, surgem promessas e ações de diversos concorrentes, são realizados serviços de patrolamento, limpeza e reabertura das vias de imediato e prometem maquinário à disposição das comunidades, mas após o fim do período, todas as ações se evaporam. Outro impasse encontrado pelos moradores é em relação à pavimentação dessas estradas. O projeto foi prometido, no ano de 2016, por um candidato a vereador, chegou a ser realizada a medição de alguns quilômetros das vias, mas nunca saiu disso. 

De acordo com dados do IBGE do ano de 2019, São Mateus é o maior produtor de coco-baía e borracha do Espírito Santo e de pimenta do reino do Brasil, produtos que movimentam a economia do Estado e do país, e esses produtos passam por essas estradas para chegarem a seu destino final e o intenso tráfego de veículos pesados gera uma deterioração das vias ao longo de todo o ano.

A pavimentação seria uma das soluções para o nosso problema, na minha opinião, já que facilitaria a mobilidade da população e eliminaria a maioria das questões problemáticas com as quais lidamos, como atolamentos e buracos que dificultam o acesso a tarefas básicas, como trabalho, escola e assistência médica, mas algumas pessoas acham que com a pavimentação ocorrerá o aumento  no tráfego de veículos em alta velocidade, o que pode acarretar acidentes como acontece na rodovia ao nosso redor, apelidada de “Rodovia da Morte”, além do aumento da temperatura, e isso seria um ponto negativo, visto que algumas famílias se encontram nas margens das estradas.

Do meu ponto de vista, a solução para ambas posições pode ser encontrada na aplicação de um estabilizador de solo. Cyro Baptista, no seu livro Pavimentação, explica que “A estabilização consiste no tratamento do solo, por um processo mecânico, ou químico, tornando-o estável para os limites de sua utilização, e permanecendo assim, mesmo sob a ação de cargas exteriores e ações climáticas.” E a aplicação de um estabilizador diminuiria a poeira, que é emitida em tempos secos e a lama em tempos chuvosos, além de aumentar a resistência mecânica. 

Esse impasse é algo relativamente simples de ser solucionado pela prefeitura da cidade, evitando a saída das pessoas no meio rural, já que o acesso a qualquer ambiente básico é vital para todo cidadão e para conforto de toda comunidade que sofre com as estradas de terra que ligam suas casas ao centro urbano de São Mateus.

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