História esquecida

Autora: Andreza Thomaz Quaresma (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
3º lugar na etapa escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2021
Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa)

Localizada na região Norte do Espírito Santo, São Mateus, cidade com cerca de 132.642 habitantes, possui vários pontos turísticos, como a Igreja Velha, o Mirante, a praia de Guriri e o Sítio Histórico Porto que carregam em si e em sua população traços marcantes da história local e nacional. Tombado pelo Conselho Estadual de Cultura no ano de 1976, o Sítio Histórico Porto, além de fomentar a política e economia local, foi o principal porto negreiro na época do Brasil colônia. Carrega em si uma arquitetura formada por 33 casarões, que, em conjunto, apresentam histórias distintas de ardor e luta que formam a cidade e jamais devem ser esquecidas.
Mônica Porto, escritora e moradora do local, em um dos seus poemas intitulado de “Almas descalças”, diz: “Caminho por entre os casarões esquecidos, ruínas, em sua maioria, e logo apenas escombros de um passado...”. Mesmo com sua importância, atualmente o Porto vem sendo deixado de lado e pouco se fala sobre o caso. Moradores dos edifícios relatam sobre o abandono do local, alguns casarões fechados, assaltos frequentes e vandalismo ao patrimônio histórico e cultural. Todos esses fatores desvalorizam o local, fazendo com que menos pessoas o visitem, gerando impactos na renda das famílias que ali residem e alimentam o legado construído desde a época colonial. 
Parte da população da própria cidade enxerga-o de outra forma, sempre relembrando que aquele cais às margens do Rio Cricaré foi um dos que trouxe africanos escravizados para o território brasileiro, e com isso, sustentam a ideia de que tudo deve ser ignorado a fim de “acabar” com a memória de sofrimento daqueles que por ali passaram. Através desse ponto, é importante citar o pesquisador e renomado escritor, Maciel de Aguiar. Maciel escreveu “História dos Quilombos”, série de 40 livros que retrata a trajetória de importantes personagens negros na cidade. Em entrevista comemorativa aos seus 50 anos de literatura no ano de 2019, o escritor comentou que a sua motivação para começar a criar livros sobre esses assuntos foi a diferença entre as histórias da escola e as contadas por moradores nos fins de tarde do Porto. Além de falar sobre o sofrimento, o autor muitas vezes também ressignificou essas narrativas, trazendo aos leitores a reflexão de que elas devem resistir e não só serem guardadas, como também expostas ao mundo, e não há lugar melhor para isso do que os casarões e museus presentes no Sítio Histórico da cidade.
No meu ponto de vista, nós vivemos constantemente cercados pela cultura do esquecimento e tentar destruir esse espaço físico só porque coisas ruins ocorreram nele não ocultará anos de história. 
Em resumo, acredito que o Governo Estadual em parceria com a Prefeitura Municipal deve restaurar o ambiente, tornando-o atrativo para visitação. Manter o local limpo, promover eventos que valorizem a cultura mateense e nossas raízes, reabrir museus, a exemplo do África Brasil, que apesar de ser considerado o maior em acervo de arte africana na América Latina, permanece fechado desde 2018 por falta de recursos. Esses são passos fundamentais para a valorização do sítio histórico. Cuidar e zelar por uma área de tanta riqueza histórica é um grandioso sinal de respeito pelas vidas que permaneceram ali.  Precisamos conservar esse lugar e fazer dele um lar de memórias.


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