Jovens no crime

Autor: Filipe dos Santos de Souza (Curso Técnico em Eletrotécnica Integrado ao Ensino Médio) Honra ao Mérito na etapa escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2021 Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa)

A cidade de São Mateus no extremo norte do ES é o lugar onde moro, mais especificamente no bairro Vila Nova. O bairro fica às margens da BR-101, região periférica da cidade, onde os políticos aparecem de 4 em 4 anos, as ruas parecem um labirinto e as crianças atravessam biqueiras para estudar, como foi o meu caso.


Aos 12 anos, vi um conhecido de 14 anos ser morto por traficantes de um bairro vizinho por envolvimento com o tráfico de drogas. Aos 13 anos de idade, quase fui atropelado por uma viatura que perseguia um primo meu, envolvido com o tráfico de drogas. Aos 14, vi um amigo de infância ser morto por traficantes de uma facção rival por envolvimento com o tráfico de drogas. Todos citados eram menores de idade, sem perspectiva de futuro e largados pelo estado. Um grande problema na cidade é o fato de jovens se envolverem muito cedo no crime, não tendo tempo de sair antes que uma tragédia ocorra.


Inclusive, não há muita alternativa de emprego na área industrial da cidade, forçando a maioria dos jovens a trabalharem na área comercial. No Vila Nova ainda há a alternativa de trabalhar nas oficinas que ficam na BR-101, prestando um serviço cansativo, que atrapalha nos estudos e com baixa remuneração. Vendo-se nesse cenário, o tráfico de drogas aparece como fácil opção, pois o máximo que a pessoa precisa ter para entrar é disposição. Iludidos com o dinheiro fácil e com o respeito que a comunidade tem pelos chefes do tráfico, os jovens entram, como dizia o rapper Djonga, no “Corre das Notas”.


Ainda há uma falta de interesse dos jovens para prestar vestibulares e processos seletivos. Conversando com adolescentes daqui, sempre ouvi os mesmos dizerem, por exemplo, que “O Ifes é escola de rico” ou que “Se tu conseguir entrar, vai sair em menos de um mês”. Muitos jovens do bairro até têm a oportunidade de estudar, mas não aproveitam pois acham que vale mais a pena trabalhar em empregos de baixa remuneração para ter dinheiro logo. A maioria só termina o ensino médio e ingressa no mercado de trabalho. Percebe-se que os jovens daqui encaram as instituições federais de ensino como algo inalcançável.


Contudo, vale ressaltar que da metade da década de 2010 em diante, houve um significativo aumento de alunos do Vila Nova no Ifes e na Ufes de São Mateus e de outros campi. Um amigo que pensava em vender drogas aqui, foi aprovado no concomitante do Ifes de mudou drasticamente de vida. Outro, que vendia substâncias ilícitas de madrugada numa rua perigosa do bairro, hoje saiu do crime graças a sua aprovação no processo seletivo do Ifes. No integrado, temos apenas 3 alunos do bairro e 2 que estudaram no colégio local, o Américo Silvares. Mas somos exemplos de que é possível sim buscar um futuro melhor nos estudos e que, apesar das adversidades, o bairro não impede o jovem de ter um futuro brilhante.


Embora tenhamos vários outros fatores que iludem os mais novos e os levam ao crime, uma forma de amenizar a situação seria investir no que dá certo e tira os jovens da marginalidade, a educação. Com professores das escolas municipais da região, como a EMEF Vila Verde (onde estudei por 5 anos) e EMEF Dora Arnizaut Silvares, sendo mais bem remunerados e tendo mais estrutura para trabalhar melhor, poderemos ter mais alunos tendo sucesso nessas escolas, atingindo até resultados como em escolas do bairro Sernamby e Cohab, onde em apenas um ano, mais de 10 alunos passaram em diferentes campi do Ifes para o integrado.


Imagem: editada por Rossanna Rubim, usando Canva.

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