O ataque às cabeçudas: dinheiro ou biodiversidade

Autora: Ludmilly Anaiélly Turibio Marques (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e de Literatura em Língua Portuguesa)

A minha cidade, situa-se no norte do Espírito Santo e possui aproximadamente cento e trinta e dois mil, seiscentos e quarenta e dois habitantes, segundo dados do IBGE de 2016. Falo de São Mateus, lugar em que se destaca economicamente pela extração de petróleo, agricultura e turismo este último fica explícito quando observamos as suas praias e a grandeza histórica que o segundo município mais antigo do ES possui.

As nossas praias são belas, são lugares de paz e calmaria. Contudo, com o crescimento do turismo, essa paz está em risco, juntamente com a nossa ilha de Guriri, que está entre os rios Mariricu e Cricaré e o Oceano Atlântico. Atualmente, a vegetação praiana sofre com desmatamento que visa à construção de um resort. 

Ao negligenciar a importância da vegetação nativa, há quem defenda a construção do resort, como a prefeitura de São Mateus, que no Decreto Municipal 11.881/2020 autorizou o desmatamento de mais de quinze hectares de  Área de Preservação Permanente (APP),com ideia de promover a economia, já que a edificação promete o uso de mão de obra local e quando estiver pronto necessitará de empregar cidadãos mateenses para atender os clientes, receberá pessoas de diversas regiões, que aproveitarão das nossas claras águas e paisagens. Esses turistas, movimentarão a economia, desde a hospedagem no resort, a passagem de transporte, até o cidadão em situação de subemprego que vende alimentos e artesanato na beira-mar.

Apesar dos benefícios apresentados, não concordo com a construção, pois essas vantagens trarão grandes consequências. A beleza do resort será apreciada principalmente pelos cidadãos com boa situação financeira, porém, todos sofrerão a falta da restinga, até mesmo o próprio resort pagará seus danos ao meio ambiente, ao lidar com a areia que o vento trará, já que não terá a restinga que fixa essa areia ao solo. Sem a restinga, os soterramentos seriam muito mais frequentes e intensos, pois a areia estaria livre para avançar em direção ao vento, provocando inundações, como o centro do município, que foi construído em cima de um córrego soterrado que estava secando e hoje, o centro de São Mateus sofre com as alagamento.

Além disso, a construção é uma ameaça para a fauna e a flora da região, pois a restinga é um bioma diversificado, variando a densidade, altura de plantas; adequado para plantas que se adaptam em lugares arenosos, perto de água salgada. Essas plantas não são encontradas com frequência em outra região. Ademais, é muito comum ver corujas na beira-mar, além de outros animais que perdem seu habitat natural e morrem no desmatamento, os que sobrevivem, invadem a área urbana e são violentados, como se não bastasse, esses animais silvestres que entrarão em contato conosco aumentam o risco de aparecimento de novas doenças.

Moradores afirmam que essa construção é uma tristeza, ao lembrarem de que cedo ou tarde, as consequências serão inevitáveis. Sem a restinga o mar está livre para invadir a ilha, que já sofre com alagamentos. Todavia, o impacto pode ser irreversível para as tartarugas marinhas que estão em risco de extinção no Brasil e são típicas da região litorânea de Guriri, as espécies tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-de-couro. Sem a restinga, elas sofrerão com as luzes urbanas que desorientam os filhotes à procura do mar, e espantam as fêmeas. Dados do Projeto Tamar afirmam que a cada mil filhotes de tartarugas marinhas, apenas uma ou duas atingem a idade adulta devido a fatores biológicos e com a foto poluição, estima-se que essa pequena porcentagem diminua.

Ao meu olhar, deve-se investir no turismo sem pôr em risco o meio ambiente, isso parece inalcançável, contudo, há meios de diminuir os impactos ambientais. Podendo investir na reforma do Sítio Histórico de São Mateus que está em más condições de uso, além de preconceito e violência, por ser um lugar onde habitou escravos; na liberação do acesso ao Museu Intercontinental África Brasil, que é rico em cultura e história de escravidão e encontra-se fechado. Com isso, podemos resgatar as histórias dos que estiveram em cativeiro na nossa terra, e apesar de tanta guerra, manter a calmaria que Guriri e suas águas nos traz.

Comentários

Postagens mais visitadas