O enxame

Autora: Amábile Mederi Merlo (Curso Técnico em Eletrotécnica Integrado ao Ensino Médio)

Era domingo e eu estava gripada. 

Perecia que o vírus tinha se afeiçoado ao meu corpo de tal maneira que, seria impossível nos separarmos. Minha avó, então, sugeriu que eu fizesse um chá de mel para melhorar. Resolvi seguir seus conselhos, peguei a chaleira, o mel, limão e, apesar de estar gripada, podia sentir o cheiro doce adentrando minhas narinas. Fiz o chá, porém, estava muito quente para tomá-lo. 

Então, fui para meu quarto, onde iria esperar a bebida esfriar. 

Ouvi música e espirrei algumas vezes. 

Quando voltei, me deparei com milhares de abelha que haviam ocupado toda a minha cozinha. Elas estavam rodeando a minha chaleira. Eram grandes. Seus olhos, brilhantes. Seu ferrão, afiado. Famintas. Alvoroçadas. Voando de lado para o outro, excitados pelo cheiro de mel que tomava o ambiente. 

Percebendo a minha presença, resolveram me atacar. 

Um enxame. 

Todas juntas. Unidas como uma sinfonia, cuja melodia machuca, arte. 

Corri para o banheiro e liguei o chuveiro. 

Abelhas. Teimosas. Continuavam a salpicar-me ferroadas, voando em torno da água. 

Como pode um ser tão minúsculo causar tamanha dor, agonia e ao mesmo tempo ser tão importante para a humanidade? As abelhas, pequeninas, além de polinizar as plantas, produzem o mel, cujo sabor queria apreciar em meu chá. 

Nesse contexto, lá estava eu, recomposta, porém, picada. 

Sentada no chão de minha cozinha com um jornal queimado, observando as abelhas irem embora com a fumaça e, naquele instante, percebi que as abelhas não eram diferentes de nós, meros atacantes do futebol de nossas vidas. Sempre à procura de nosso “pote de mel” no fim do arco-íris. Assim como as abelhas faríamos de tudo por ele e, ironicamente, até morreríamos. 

Seres humanos. Como seres sociáveis, vivemos em sociedade e tentamos nos mostrar civilizados, porém, basta alguém ser diferente ou “parecer” ser uma ameaça para mostrarmos nosso lado selvagem. Somos animais, afinal. 

Abelhas. Guerreiras profissionais. Realizam seus ataques em bando e nós sabemos fazer isso muito bem, em especial, nas redes sociais. Além disso, um comentário ofensivo atrai outro comentário agressivo, assim como uma abelha que, ao avistar o mel, atrai outra abelha. No jardim da internet isso fica evidente. Um posto, uma foto, um corpo fora dos padrões, uma declaração, uma opinião divergente já bastam para que um enxame repleto de pessoas com nervos aflorados para destruir a imagem e o psicológico de uma pessoa e, assim como as abelhas, atacamos indivíduos que são diferentes de nós, cujas ameaças, por muitas vezes, estão somente em nossas mentes. 

Abelhas. Possuem cinco olhos que observam os diferentes ambientes por onde passam, enquanto nós, humanos, com apenas um par, damos conta de observar a nossa vida e ainda a dos outros. Ver. Opinar. Avaliar e, claro, rebaixar o estilo de vida e opinião de outras pessoas. 

Ademais, nós, humanos, assim como as abelhas, dependemos da natureza para sobreviver, porém, diferente delas, possuímos um descaso enorme com nossos recursos naturais. Desperdiçamos. Nos apossamos do mundo. Agregamos valor monetário nas árvores, nas flores, na terra. Colocamos o sucesso financeiro acima de tudo e todos. 
Somos seres pensantes. Mas até quando?

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