Um futuro mal falado

Autora: Jenniffer O. Checchia (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
4º lugar na etapa escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2021
Orientação e revisão textual: Adriana Pin (Professora de Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa)

O que faz um município? Há quem diga que seja a expansão territorial, ou as características, a história ou talvez a maneira como a vida se desenvolve aqui; mas quando penso em São Mateus, no Espírito Santo, não me vêm à mente minha rua ou nossas praias, mas aquilo que realmente faz dessa região meu lar: as pessoas. Cada uma das mais de 130.000 delas (IBGE/2020).

Como em toda casa, as opiniões dos moradores e visitantes divergem sobre os mais variados assuntos, dentre eles sobre o futuro da região e de seus moradores e, nesse contexto, percebo um grande desejo de evasão por parte da população jovem. Inicialmente parecia se tratar apenas de um anseio por parte dos jovens, mas uma análise mais profunda revela que, em muitos casos, esse desejo é alimentado e instigado por familiares. 

Segundo alguns moradores, não há nada aqui para a mocidade, “eles [os jovens] têm que ir para um lugar de verdade”, alegou uma moradora. Todavia, instigar a antipatia pelo local onde se mora gera, além da necessidade de sair o mais rápido possível, frustração e angústia naqueles que não atingem esse objetivo. O que, dado o padrão de vida de classe média baixa da maior parte da população, acaba por vezes não sendo possível.

Por um lado, a região é uma cidade pequena, com infraestrutura limitada e não há uma oferta tão diversificada de atividades ou oportunidades de emprego, então vê-se a necessidade de enviar a juventude a locais com mais oportunidades. 

Por outro lado, percebe-se que aqui é um local relativamente tranquilo, onde crianças podem brincar na rua, comerciantes fazem questão de seus clientes, moradores se conhecem e se ajudam, e além de ter ótimas opções de carreira e formações em redes federais de ensino é uma das cidades mais antigas do Brasil, tendo importantes sítio histórico e território quilombola de grande valor histórico-cultural.

Nesse sentido, discursos depreciativos presentes na informalidade da vida dos moradores de São Mateus me geram grande preocupação quanto ao futuro daqui e de nós, os habitantes. Uma olhada nas listas de aprovados em universidades das escolas de ensino médio (especialmente as particulares) mostra que a maior parte dos jovens que deixam a região vão para a capital e arredores (onde foram/são e serão formados profissionais que não há garantias de que retornarão). Consequentemente, como mencionado anteriormente, os que ficam acabam sentindo que, de alguma forma, falharam em “abandonar o navio”.

Finalmente, para lidarmos com essa situação sugiro que se criem momentos de integração e aproximação da comunidade com o local onde ela está, com vistas a reconhecerem as riquíssimas características culturais da região, para que as pessoas sintam todos os dias o orgulho e a felicidade de serem mateenses que sentem durante a Festa de Exposição e do Carnaval, quando a cidade se enche de turistas, novidades e boas perspectivas, ao invés de ter apenas fatos mal falados.

Desse modo, além de belezas históricas e naturais, nosso município também seria o lar de gente feliz e completa não apenas com relação a com quem estão, mas também consigo mesmas e com o lugar onde se encontram. Afinal, nosso lar faz parte de nós assim como fazemos parte dele.

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