Irritantemente parecidos

Emanuelly Conceição da Silva (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)
Revisão textual: Rivana Zache Bylaardt (Professora de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola)

Acabei encontrando, ao acaso, bem no topo da segunda estante próxima à porta da biblioteca esquecida e pouco movimentada, uma fileira inteira de livros esfarrapados e malcheirosos. Nas lombadas gastas e quebradiças quase não se notavam mais os títulos. O estado da capa do primeiro da fila era terrível, dava pena. Ali, naquele cantinho escondido e pouco iluminado, sufocados por um cobertor feito de centímetros e centímetros de poeira, pareceram gritar por ajuda.

Não soube bem os motivos que me moveram em direção à estante e alçaram meus braços em solidariedade até seu topo, como que em resposta ao pedido de socorro, mas estes garantiram que eu analisasse, com carinho, todos os cinco volumes, cuidadosamente numerados, e sentisse empatia. Talvez apenas tenha me ocorrido como éramos irritantemente parecidos: almas solitárias e agonizantes, no silêncio, esperando por alguém que se dispusesse a ouvir sua história. Nos encaixamos.

Daquele momento em diante, nunca mais estivemos sozinhos. Nos fundimos. Inseparáveis, mesmo quando não lhes era viável estar aberto, perto de mim, e meus olhos não percorriam as palavras naquelas páginas decrépitas e bolorentas. Até mesmo assim, estávamos juntos. Estávamos juntos pois absolutamente cada fragmento de história, cada partezinha, por mais diminuta que fosse, presente na forma física daqueles cinco livros, agora se manifestava em mim animicamente.

Éramos crianças muito semelhantes, principalmente nos medos. Ficar sozinho de novo parecia assombroso, então concordamos em nunca largar uns aos outros. E quando o silêncio surgia com aquele quê de terror, eles costumavam sussurrar para mim, narrando baixinho e com calma cada capítulo que ainda faltava. Como eles também não podiam se perder na solidão, eu matava o silêncio listando todos os sentimentos que me haviam proporcionado.

Depois de um pacto assim, quase todas as coisas pareceram ficar mais fáceis para nós e, quando atravessei a porta da biblioteca pela sexta vez, carregando o último livro, ele já não tinha mais medo de lá. Eu também não me identificava com nenhuma outra obra que transparecesse o mínimo de agonia ali dentro.

Desde então, sempre estive acompanhada. Cinco livros velhos, largados e subestimados me lembraram uma verdade até então esquecida: quando uma história te conquista, por conseguinte você acaba conquistando ela também. Ela se torna uma parte sua, mesmo que no inconsciente, e você se torna dela. Sem dúvidas, uma consequência muito gentil.

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