LIVROS: PORTAS PARA REALIDADES A SEREM EXPLORADAS
Maria Luiza Carvalho dos Santos Recla de Jesus (Curso Técnico em Eletrotécnica Integrado ao Ensino Médio) Revisão textual: Rivana Zache Bylaardt (Professora de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola)
Livros... Qual o segredo que existe por trás de cada um deles? O que há de tão especial dentro de uma capa inequívoca, seja ela surrada ou nova, ilustrada ou simples, dura ou mole, impressa ou digital, que pode conquistar e cativar tanto as pessoas? Qual a magia que existe por trás do ato da leitura? O que de tão importante ler desenvolve em alguém como ser humano?
Enxergo como uma completa ironia considerar que eu já li e tenho lido tantos livros ultimamente, mas quando procuro responder o porquê faço isso, me deparo com um real desafio. Talvez seja pelo fato de que, às vezes, inserimos tantas coisas na nossa vida que parte delas acabam adquirindo certa monotonia e, dessa forma, se tornam parte da rotina e, consequentemente, se intitulam como hábitos.
Pensando bem, desde pequena, cresci ouvindo da minha mãe, que era bibliotecária, inclusive, o quão importante eram os livros para a formação de qualquer ser humano e este tipo de coisas que costumam argumentar para convencer uma criança teimosa de algo, mesmo que, na época, eu não fizesse ideia do que ter uma “boa formação” significaria. De qualquer forma, não podia simplesmente dizer que ela estava errada, porque é fato que as mães sempre sabem das coisas, então passei a ler gibis, gibis e mais gibis.
Gostava bastante da forma como as imagens contavam muito a respeito das histórias e percebi que era necessário apenas que eu as observasse para entender, porque estava tudo ali, totalmente às claras nas figuras coloridas e detalhistas. E só de pensar que havia livros enormes, sem qualquer figura, cheio apenas por palavras e mais palavras, eu sentia calafrios. “Como alguém consegue entender alguma coisa sem as figuras?” eu sustentava uma certeza de que nunca seria capaz de passar da primeira página de um desses livros de “gente grande”, que possuíam mais páginas do que eu era capaz de contar e que pareciam terrivelmente entediantes. Como eu estava errada...
A partir do momento em que os próprios cheiros descritos faziam cócegas no meu nariz, me desafiando a inspirá-los, e os gostos deixavam uma sensação nostálgica na língua, entendi que já era hora de tentar sozinha e me aventurar, de forma que não precisaria mais da ajuda das imagens ou do auxílio da minha mãe, porque havia eu descoberto a posse de uma coisa muito mais poderosa: a imaginação.
Durante a busca por como poderia iniciar esta nova fase, acabei conhecendo uma saga em especial, que é uma das minhas preferidas até hoje: A maldição do tigre, da Collen Houck. Trata-se de um romance, cheio de fantasia e aventura que ganhou o meu coração sem muita dificuldade. Acabei encontrando, por acaso, este livro na estante da minha mãe e, por achar a capa incrível, foi inevitável não sentir vontade de ler a sinopse e, por consequência, o livro, que foi um verdadeiro marco na minha caminhada como leitora e amante dos livros, pois descobri que poderia, daquele momento em diante, conhecer novas possibilidades de universos e expandir a visão do que eu sabia a respeito do mundo conforme lia página após página.
Depois deste primeiro livro, fui incapaz de seguir a minha — até então — curta vida sem inserir os livros, tão intrinsecamente, na minha rotina que parecia tão enfadonha sem eles. Prossegui, sempre procurando por novas possibilidades e nunca me prendendo completamente a um único gênero, mesmo que os meus preferidos sejam, sem dúvidas, romance, fantasia e aventura.
Desde então, contemplo a forma como uma escolha certa no passado, ditada pela influência positiva da minha mãe, foi capaz de fazer toda a diferença no meu presente e na forma como procuro enxergar o meu futuro, sabendo que conforme leio mais e mais e mato parte desta minha sede insaciável pela leitura, enquanto essa atitude — que em certo ponto pode ser vista pela minha consciência como “egoísta e exagerada” — me causa prazer, eu também enriqueço meu vocabulário, expando minha visão de mundo e abro minha mente para novos universos.
Porque não é clichê dizer que a leitura é fundamental para a vida de qualquer pessoa, como ouvi minha mãe me dizer tantas e tantas vezes, e como insisto em afirmar para a minha irmã caçula. Não é clichê! Não quando essa verdade se torna uma realidade indiscutível e definível, como foi para mim e espero que seja para todas as pessoas que faço questão de guiar por este mesmo caminho, porque é fato que a leitura mudou a minha vida e, principalmente, a forma que eu olho para ela.
Sempre que olho para um livro acabo pensando: “Quanto de mundo vou adquirir através deste simples objeto?” e, sim, é uma loucura tentar dimensionar toda a diferença que algumas páginas simples, que eu já desprezei por incontáveis vezes na minha infância, trarão após receberem a devida atenção.
Mas sabe o que é mais engraçado? Eu nunca terei lido livros o bastante, nunca concluirei o que pode ser chamado de “uma caminhada literária”. Não quando a literatura tem se tornado uma realidade tão expandida e rica, porque sempre terão mais e mais livros para serem lidos, histórias para serem contadas e escritas. Logo, tudo o que é abstraído em cada leitura concluída é um lucro valiosíssimo, responsável por sempre reproduzir em mim um sentimento de gratidão pela oportunidade de conhecer mais um pouquinho de tudo que ainda há disponível.
Junto do hábito da leitura, descobri a existência de outra capacidade que possuímos e nem sempre valorizamos: de não apenas contemplar histórias, mas de também fazê-las, escrevê-las e de simplesmente sê-las, porque podemos e devemos reconhecer e enaltecer a beleza de cada detalhe da vida, que é tão cheia de inconstâncias e milagres a serem explorados através da escrita.
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