MATANDO AULA

Fabio Augusto Favalessa Pinheiro (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio) 
Revisão textual: Rivana Zache Bylaardt (Professora de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola)

Era uma quarta-feira, o dia estava nublado, quando entrara na sala minha professora de História, uma mulher de meia-idade, cara fechada e bastante ranzinza. A aula mal havia começado, e eu, entediado, olhava para todos os lados, em busca de alguma coisa que me chamasse atenção. Eis que me surge uma ideia e peço à professora para ir ao banheiro. Saio à porta, desço as escadas sorrateiramente sem que a supervisora me veja, adentro a biblioteca sem fazer barulho, até que vejo a bibliotecária sentada em uma escrivaninha posicionada no canto daquela grande sala improvisada, pois a biblioteca passava por reformas e, para minha sorte, ao seu lado uma pilha de dezenas de livros em cima de uma mesinha sólida tampara a minha furtiva entrada. Escolho um dos livros da última prateleira, a de meus amados livros de ficção e sento-me ao chão, escondido. Abro as páginas daquele fresco livro redolente e mergulho no mundo daquele livro, mal vejo as horas passarem.

Aquele momento era maravilhoso, com ele podia me esquecer do resto do mundo. Aqueles livros. Ah...aqueles livros! Eles me levavam para um mundo de imaginação e conhecimento que eu queria cada vez mais consumir e por diversas vezes fiz a mesma coisa, até que um dia eu me dei mal.

Percebendo a minha demora para retornar à sala, a professora preocupada foi ao banheiro me procurar, com sua voz fina e seu olhar fugaz chamou diversas vezes, mas ninguém respondia; furiosa, ela rapidamente se dirigiu à sala da coordenadora, uma senhora velha e muito simpática, de cabelos castanhos banhados pelo branco que surgia devido à idade, juntas me procuraram por todo o canto e, veja só, achavam até que eu havia fugido da escola.

Eis que de repente surge atrás de mim a bibliotecária, com o rosto permeado pela sua perplexidade e, sabendo do meu sumiço, ela me segurou pelo braço e me levou imediatamente à coordenadora. Depois de reportar aos meus pais, ela me fez assinar a minha primeira ocorrência e, para mim, foi uma grande satisfação, não me arrependo desta memorável cena e dos momentos que passei me deleitando naquelas páginas.

Foi nessa época que me apaixonei pelos livros, tinha por volta de 11 anos, quando fiquei viciado pela leitura, numa sede insaciável, derramava em meus olhos aquelas palavras grafadas nas páginas dos livros a todo momento. E foi assim, lendo às escondidas em horário de aula e em todos os outros momentos do dia, que consegui o recorde de aluno que mais leu livro em toda a escola por 3 anos consecutivos, para mim, aquilo era só números diante de todo o conhecimento que adquiri com eles.

São dessas simples páginas marcadas por um código de letras que ao decifrá-las encontro em mim o esplendor desse e de diversos outros mundos aos quais os livros me permitem ir.

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