O que um livro me fez sentir

Gabrielly Rosário Dionisio  (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio) Revisão textual: Rivana Zache Bylaardt (Professora de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola)

Acredito que todo leitor tenha uma grande alegria ao terminar o seu primeiro livro sem imagens. Palavras nunca antes vistas, a imaginação a mil, a vontade de perguntar a todos se alguém já leu e muitas vezes ficar mais feliz ao ouvir um “não”, podendo assim começar a sua própria narrativa sobre aquele mundo que acabou de sair.

Com o tempo, já me esqueci de qual tenha sido esse primeiro mundo para mim, se tinham seres fantásticos, um lugar futurístico ou um romance atual. Mas esta experiência me rendeu a entrada para inúmeras outras, seja desvendando uma investigação policial com Agatha Christie, seja conhecendo o nosso antigo Brasil ainda muito vivo nas palavras do Machado de Assis.

Talvez o meu espírito aventureiro de leitor nem tenha começado por aí. Histórias em quadrinhos sempre estiveram ao alcance das minhas mãos. “Não vou comprar do Cebolinha, ele fala errado”, dizia minha mãe, mesmo ele aparecendo em todas as outras histórias da Mônica. O que Maurício de Souza diria? Não sei, talvez para ele este seja o jeito correto de ensinar o que é certo através do errado. Acho que deu certo.

Relembro minhas reações ao pegar um livro: se fosse velho, amarelado, a capa meio solta, era como estar segurando uma preciosidade enorme. Será a primeira edição? de quem são essas anotações? como a pessoa antes de mim leu? agora quando o livro é novo, cheiro de loja, marcas de dedo no plástico que o encapa, não são perguntas que vêm à cabeça, mas afirmações. Sou a primeira a segurá-lo! vou deixar com essa aparência de novo para sempre! todos precisam ver! neste caso, sou eu a pessoa que vai deixar alguma anotação.

Depois dos inúmeros gibis, meus gostos literários mudaram conforme crescia. Primeiro, livros cujo personagem era da minha idade e já tinha inúmeras aventuras em reinos e missões. Como queria que minha vida fosse aquela, estar ao seu lado para ajudar no que fosse preciso. Depois, fui para romances. Estes passavam de cavalheiros e damas para adolescentes no colégio, onde o Ensino Médio era tudo o que eu mais queria. Dessa fase eu fui para os clássicos. Ah, os clássicos... você gostando ou não, te mostra uma cultura, um período, te ensina algo. Sempre os amei.

Minha viagem termina, atualmente, nos livros mais realistas, cuja realidade nem sempre era a minha. Inúmeras vidas, inúmeros desafios e problemas sociais que eu percebia e via a minha volta. Aqueles livros que não lemos para fugir dos problemas, mas para adentrar mais a fundo e entendê-los. Estes livros te fazem  perguntar: “Por quê? ” e a resposta? bom, talvez você encontre, ou não. Talvez haja até mais de uma.

Lembro de ter lido um livro e nunca mais o ver, não lembrar seu título. As lembranças da jornada daquela incrível embarcação, gravadas na memória e que aos poucos vão sumindo, comigo ansiosa para revê-las. Talvez a capa fosse azul, o título falasse de uma família. Não lembro, só sei que me tocou.

Para muitas pessoas ler é um sinônimo de vocabulário grande, ou melhor dizendo, vocabulário “vasto, ilustre, exímio”. Antes eu também pensava assim, mas aos poucos percebi que, ao fim de cada história, poderia começar a agradecer alguém com um “Disponha”, mas também iniciar uma conversa com “E aí, beleza?” toda e qualquer forma de expressão, conectadas. Sempre gostei disso, porque é uma parte que fica com o leitor, além do conhecimento.

Nesta quarentena, para mim, retornar para alguns mundos tem sido uma incrível forma de libertação, fazendo eu me lembrar da primeira vez que estive em cada lugar, e vendo de uma forma diferente com o que aprendo a cada dia. Acredito que todo leitor tenha essas sensações ao reler algo. Se apaixonar completamente pelo personagem outra vez, mesmo sabendo do seu trágico final, apenas para sentir de novo e de novo. Parece estranho, mas quem lê entende.

Tudo isso me leva a pensar o quão bom é ser leitora, e o quão bom são minhas memórias. Agora passo para meus irmãos este meu vínculo com a literatura. Muito feliz ao ouvir deles o “não” por não conhecer, mas vendo nesta negação a afirmação de querer saber.

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