ONTEM, NÓS ÉRAMOS CRIANÇAS

Isabella de Souza Oliveira (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio) Revisão textual: Rivana Zache Bylaardt (Professora de Língua Portuguesa, de Literaturas de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola)

Quão grande é a imaginação de uma criança! Com apenas cinco anos, um sorriso espontâneo e um coração cheio de inocência, lembro-me deste episódio como se fosse ontem. Lá estava eu, uma criança serelepe vivendo em seu pequeno mundo imaginário, mais conhecido como: meu quintal. Ah! Meu quintal era lindo, cheio de plantas e árvores. Pés de banana, goiaba e graviola, além dos coqueiros. E os bichos? borboletas, pássaros, cachorros, macaquinhos e outros insetos. O contato com a natureza me fez crescer apaixonada por ela.

Meu quintal poderia se tornar desde uma floresta selvagem até uma encantada, tudo dependia da minha imaginação. Não poderia faltar a água, presente na chuva, nos banhos de mangueira em um domingo de verão ou em minhas brincadeiras de sereia. Minha mãe, como mãe e professora preocupada com o crescimento do caráter dos filhos, sempre me dizia: “Filha, não desperdice água!” e eu sempre entendi o problema hídrico do nosso planeta, que há cerca de doze anos  já era bem preocupante.

Um certo dia, por descuido, antes de sair com minha mãe para ir à rua, acabei deixando a torneira do banheiro aberta. Passamos uma tarde fora. Naquele dia eu desperdicei muita água. Minha mãe, brava, não hesitou em me chamar atenção – e com razão. Eu estava envergonhada! Sempre tive uma personalidade dramática e aquele parecia o fim do mundo, eu estava arrasada. Vejo que me sentiria mais envergonhada ainda hoje em meio a uma crise hídrica em São Mateus.

Aquele episódio me dói até os dias atuais, como ver um desastre ambiental na televisão, afinal eu estava contribuindo para tal. A criança inocente e apaixonada pela natureza que existia em mim se sentia culpada e triste. Por isso, enxuguei as minhas lágrimas e resolvi escrever uma carta para o planeta Terra. Naquele momento, cheia de coragem, recém alfabetizada, escrevi em um pedaço de papel: “Querido planeta terra, me perdoe por desperdiçar água. Eu sei o quanto ela é importante para nós, prometo não fazer mais isso”.

E assim foi feito, eu escrevi a carta e enterrei em um local específico no meu quintal, no qual eu ainda me lembro. É engraçado pois algumas semanas depois de ter enterrado a carta, fui procurá-la naquele mesmo local e não a encontrei. Por mais que seja algo bobo, repleto de inocência e imaginação, aquilo me despertou uma consciência ecológica desde pequena. Ademais, esse acontecimento me trouxe um dos meus primeiros contatos com a escrita por meio da carta.

Minha paixão pela literatura começou em uma escola durante a educação infantil, com seis anos. Foi naquele período que eu conheci, através da minha professora, Cecília Meireles e me apaixonei por seus poemas: As meninas, A Bailarina, Ou isto ou aquilo, As duas velhinhas, Leilão de Jardim, entre outros. Eu me encantava com seus poemas e me identificava com a forma que escrevia. Eu vi dentro da literatura uma forma de expressar o meu mundo de uma forma real, a partir daí surgiram minhas experiências com livros, poemas, cartas, diários, teatros, crônicas e gibis.

Lembro-me como se fosse ontem, em uma apresentação na escola, eu e uma colega interpretamos o poema “As duas velhinhas”: eu, como Marina; e ela, como Mariana. Jamais esquecerei a emoção sentida em viver um poema tão marcante, vestida como velhinha. Cecília Meireles marcou minha infância sendo uma figura feminina inspiradora que escrevia desde a realidade até a imaginação, me fazendo sonhar em ser bailarina, me apaixonar pela literatura, ver o mundo com outros olhos e reviver, até hoje, minha essência como criança. Subscrevo Cecília Meireles, afinal: “Ontem, nós éramos crianças”.

Comentários

Postagens mais visitadas