Supermercado do estresse

Autora: Emily Wingler Gonçalves (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio)

"Vai lá comigo no supermercado Rebeca, que eu faço bolo quando chegarmos". É assim meus jovens, que fui obrigada a parar aqui. Aff! Detesto quando minha mãe faz isso, pois é chantagem pura.

Este lugar sempre está lotado de gente e meus instintos antissociais estão gritando. Primeiro passamos na sessão do arroz, e minha mãe pega dois sacos de cindo quilos. Não temos carro, então já sabemos que é a burra de carga, que sou eu, vai ter que carregar. Se eu reclamo ela diz: "a mamãe tem dor nas costas, Beca! Você não vai me deixar carregar... Vai?!" É muito drama para uma única mãe, até porque, para observar a vida dos outros, faz uns agachamentos que deixariam a Gracyanne Barbosa no chinelo.

Depois passamos na sessão dos biscoitos e aí... Não acredito: uma criança está fazendo pirraça no chão, porque queria um Passatempo e a mãe não está fazendo absolutamente nada para pará-lo. Todo mundo está olhando o show de vergonha alheia. Se eu fizesse isso, quando era mais nova, minha mãe teria me dado uns petelecos e eu pararia e ficaria quieta como um anjo. A situação continua e os funcionários percebem que o tumulto está incomodando os clientes. Acho que vão chamar o gerente. Mas antes dele aparecer, vamos para a fila da carne. Uma pena, porque eu queria ver a confusão... Seria hilário.

Esperamos meia hora na fila. Eu, que sou bem pacífica, me espantei ao querer fazer um barraco quando uma senhora passou na nossa frente, já que era finalmente a nossa vez. Comecei a gritar e ela me ignorou. Ia cutucá-la para ela dar licença, mas a minha mãe disse: "ela é uma senhora idosa e surda, Rebeca, mais respeito". Minha cara virou um pimentão. Abaixei a cabeça e fiquei na minha. Como eu passo raiva neste lugar.

Finalmente, a parte da coleta acabou, fomos para fila do caixa, a paz parecia estar no horizonte. Porém, Dona Jurema chegou depois de nós. Ela é a mais fofoqueira do bairro, sabia tudo sobre todos e não perdia a oportunidade de causar a discórdia. Minha mãe não gostava dela, mas mesmo assim eram próximas, ou como saberia das coisas?! Que o vizinho namorava uma menina trinta anos mais nova que ele. Eu a aturava também, por educação, e não porque tinha um filho lindo.

A conversa vai e vem, a fila aumenta, ao mesmo tempo que sobram apenas duas pessoas na nossa frente. Ai não! A minha mãe está com a cara de Dory, de quem esqueceu alguma coisa. Por favor que ela não me deixe sozinha agora. "Beca esqueci o amaciante, vou buscar rapidinho... Não deixe ninguém passar na nossa frente". Não. Parece que todos me encaram agora. Sinto que estou segurando uma bomba na mão e que vai explodir assim que a última pessoa sair do caixa. A Jurema já está se preparando, com a sua cara de deboche, para atiçar a turba. Volta mãe! A última pessoa saiu. Agora todos realmente estão olhando para mim, sendo a pior cara, a da atendente, porque parece que ela me olha com nojo e irritação. "Anda garota! Eu tenho horário", gritou um moço lá atrás. "Ficou lesada, Rebeca?! Ouça o moço e vai logo, ninguém tem o dia todo", a dona Jurema falou. As pessoas começam a se agitar. Irão chamar o gerente para mim também. Um pesadelo. Se eu estivesse em casa, nada disso teria acontecido. Volta mãe! A atendente se levanta e acho que vai chamá-lo.

Seria um anjo?! Ou a minha mãe chegando com o bendito amaciante. "Moça porque você está levantando?! Eu quero passar minhas compras, tenho um monte de coisas para fazer lá em casa!", fiquei chocada (aliviada também) coma audácia dessa mulher que chamo de mãe.

A moça passou as compras, e todo mundo ficou nos olhando, alguns felizes outros com revolta. Mas eu ganhei meu bolo. Então, dane-se! Valeu a pena o estresse.

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