Caro terminante, que ainda não sabe que é terminante (Mateo Torrez)

Autora Ludmilly Anaiélly Turibio Marques (Curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio) Texto inspirado na obra "Os dois morrem no final", de Adam Silveira, participante do Concurso Literário 2022 do Ifes Campus São Mateus

Nova Iorque, cinco de setembro de 2017.

Caro terminante, que ainda não sabe que é terminante (Mateo Torrez),

Eu sinto muito por você estar recebendo esta mensagem, mas, de certa forma, eu fico aliviado de poder destiná-la. 

Digo isso, pois vejo que você não está vivendo como gostaria e que tem se conformado com tão pouco e, por tanta ignorância de sua parte, está com medo de arriscar-se e machucar-se ou, até mesmo, de se arriscar e acabar recebendo outra carta minha dizendo-lhe que só te restam 24 horas. No entanto, apesar de seu receio, me vejo obrigado a dizer-te que você VAI morrer!

E eu sinto muito, sério, muito mesmo, mas ainda preciso te falar que você perdeu um tempo precioso de sua vida rolando o celular, esperando o momento certo, esperando seu pai voltar ou esperando a coragem cair do céu; perdeu tanto tempo dentro do seu quarto lendo blog de terminantes passados. Agora é sua vez, que ironia, não?

Nossa, Mateo, é realmente triste a forma que você esteve.  Eu sinto muito. Imagino que esteja se sentido solitário, angustiado, desapontado, que o pensamento de injustiça tomou conta de ti, ainda mais porque você é só um garoto de dezessete anos. Mas se acalme, pois esse alarme ainda não é totalmente preciso, você pode ter exatas vinte e quatro horas, pode ter seis horas, dois minutos, um ano, ou vinte anos pela frente. Por isso, eu fico aliviado em saber que pode haver uma chance no decorrer desse longo e, ao mesmo tempo, curto período e, ainda que seja pouco tempo, acredito que ainda valha a pena eu te alarmar que você vai morrer.

Diante dessa mensagem tão importante, inconfundível, que te toca na alma e te faz brotar medo, Mateo, eu sinceramente espero que você vença todos esses sentimentos ruins que te limitam, como as paredes de seu quarto, e deixe seu navio sair do porto, talvez assim ele veja como são belas as águas marítimas e descubra que foi feito para isso. 

Eu peço que você se permita se conhecer, se descobrir e se amar. Eu peço que você ande de bicicleta sem capacete e sinta o balançar dos pneus e o medo do desequilíbrio; que você se arrisque a sair do conforto de seu quarto macio, que ouse experimentar pratos novos além do de sempre, para ver o quanto o mundo é vasto e rico. Ah, Mateo, por que você se privou tanto de realizar seus desejos? Por que é que você se limitou a essas quatro paredes tão demarcadas que te proporcionam o controle da sua vida? Eu continuo pedindo e torcendo para que você se declare para a pessoa que você gosta, para que você ouse pular de paraquedas e sinta o vento batendo em seu rosto junto com a canção que se formou pela força dele em seus ouvidos e se alegre em viver tal aventura. Seria pedir demais pedir para você viver sua vida intensamente? Pois eu não sei se sonhando neste parágrafo você se esqueceu, mas você vai morrer e parece que nem começou a viver, apenas está existindo.

Sério, eu sinto muito por todo esse tempo perdido, mas espero que você ouça o alarme te trazendo a mensagem que você pode fazer cada dia valer a pena porque você, assim como todo mundo, vai morrer no final.

Minhas sinceras condolências, 

Despertador, (Central da Morte).

Ludmilly Anaiélly Turibio Marques.